UM DIA EM DELFT
por Ana Paula Pisani
Acordei mais cedo hoje, estava atrasada, mas de Breda para Delft são só 40 minutos.
Um pouco sobre Delft:
A cidade foi fundada em 1074, pouco restou para contar história após o grande incêndio de 1536. As antigas casas e monumentos das ruas estreitas ao longo do centro histórico datam o século 16. Com vocação para o comercio, Delft teve seu apogeu entre os séculos 12 e 14, quando vivia basicamente da produção de lã e cerveja. Hoje é famosa pela produção de porcelana, tradição que foi trazida pelos imigrantes italianos há mais de 400 anos, o que se tornou a partir do século 16 um dos carros-chefe da economia local e reconhecida no mundo inteiro. Com o passar do tempo, as famosas peças brancas com desenhos azuis adquiriram novos desenhos, de inspiração oriental após o contato mais próximo com o oriente, a partir do século 17 e a influência da porcelana de Sevres e de Saxe no século 17 - e algumas até outras cores, sem, no entanto, perder de vista as cenas tipicamente holandesas. Também é conhecida por ser cidade natal do mestre da pintura holandesa do seculo 17, Johannes Vermeer. Ele é responsável por uma das mais famosas pinturas da historia, "Moça com Brincos de Perola", considerada a Mona Lisa holandesa.
Pouco se sabe sobre a história do mestre: nasceu em 1632, casou-se aos 20 anos com uma burguesa chamada Catarina e morreu aos 43 anos, em 1675. A ausência de assinaturas e a abundância de telas sem autenticidade comprovada, dificultam a apreciação cronológica da obra de Vermeer. Somente 35 de suas obras são reconhecidas e calcula-se que 20 estejam perdidas. Todo esse mistério tornou-se inspiração para o romance da escritora Tracy Chevalier, “Moça com Brinco de Perola”, uma ficção sobre o que levou Vermeer a realizar sua obra-prima, que se estima ter sido criada por volta de 1665.
Resolvemos começar nosso passeio pelo alto da torre da Niewe Kerk (Nova Igreja), lugar onde promete a mais bela vista da cidade, mas prepare-se para a "escalada". Do alto da torre tiramos nossas primeiras fotos. A igreja de estilo gótico, foi construída em 1381, ali estão enterrados quase todos os príncipes da casa de Orange.
Depois da cansativa "escalada" à torre, demos mais uma volta pela cidade e aproveitamos as lojas abertas para fazer algumas compras, já que o comercio na Holanda fecha cedo. Em Delf, por exemplo, aos sábados as lojas abrem até às 17hs e no domingo não abre. Aproveitamos, também a feirinha de antiguidades que é realizada todos os sábados na cidade. No meio da minha caminhada avistei a Torre inclinada da Oude Kerk (Velha Igreja), dá a impressão que está prestes a cair. A igreja foi erguida no século 13 e levou 300 anos para ter o formato atual.
Resolvemos então conhecer um pouco mais da cidade, fazendo o tour de barco no Oude Delft, como é chamado o canal mais antigo da cidade, que nos dá visão as pincipais atrações da cidade. No número 30, está a mansão que já alojou a Companhia das Indias Orientais (Oostindicsh Huis) e, no número 167, o prédio do Conselho das Águas (Hoogheemraadschap van Delfland), construção de 1520 de estilo gótico brabanção. Ao lado, no numero 169, ve-se a fachada das armas de Savoy (Het Wapen van Savoyen).
A cidade possui diversos museus, mas para quem pretende passar um dia em Delft como eu, vale a pena escolher entre o Prinsehof, ou a corte do príncipe, antigo convento que deu lugar a residência onde Guilherme de Orange viria a ser assassinado em 1584, no qual hoje funciona o museu de arte municipal, e o Museu Lambert van Meerten, onde há uma impressionante azulejaria de faiança holandesa e estrangeira dos séculos 16 ao 19. Como a noite já estava caindo, decidimos finalizar o passeio num restaurante, ali mesmo no Markt, ou praça principal.